04/04/2017

O fim sem começo dói.
Não imaginava isso.

Dizem que quando se perde um membro do corpo, continua-se a sentir as sensações como se ainda estivesse ali. Comichão, coceira e até dor.

Não sei bem se há uma analogia nisso.

Mas o fim sem começo é como sentir o membro que ali nunca esteve, nunca fez parte do corpo.

E ainda assim falta. Dói. Coça.

É uma estranha sensação de nunca saber se esse membro seria útil, se funcionaria bem, se seria uma parte harmoniosa do corpo. Só sinto a sensação dele e falta.

O fim sem começo dói.
Já tentou ler o último capítulo de um livro sem nunca ter lido o livro inteiro? Clichê. Mas é um sentido parecido. Não faz sentido apenas.

Ou não existiu e mesmo assim fez sentido se tivesse lido o livro todo.

Nunca imaginei sentir essa tristeza, essa angústia de terminar o que nunca começou.

O fim sem começo dói.

É um natimorto. Não há conforto na ideia de que apenas  criamos uma barreira protetora entre nós e o que estaria por vir.
Que poderia ser bom e acabar e provocar dor.
Ou que poderia simplesmente ser muito ruim e acabar e provocar dor do mesmo jeito.

O fim sem começo provoca o mesmo efeito. Dói.

E depois de colocar fim ao começo sem start, apenas estou buscando conforto nessa zona que se tornou apenas respirar.
Não há conforto nenhum em se afogar.

29/09/2016




Tarda

Ainda que corra não acharei.

Falta.

Não se compra, não se negocia.

Rosto.

Não te decorei. Tardou. Perdi.






Damas me visitam.
         
                             Do passado, do futuro,

                                                           Da minha imaginação.

             E que peso que nada.

                                           Ao me deitar, ainda serei eu.
Demorei, mas voltei.
E quando isso acontece,
volto feroz!

E é assim que se descobre.
Eu não sou você.
Nós somos antítese.
Antagônicos.
Pseudos. Nada presos.
Distantes. E descobre.
Eu. No fim, é o que resta.

14/02/2016

AnO nOvo

Estão todos surdos.
Atados ao lugar comum da lida frenética,
desenfreada, absurda e cansativa.
Estão todos surdos.
Não te escutam, falante da esquina.
Som preso no poste. Alto, estridente.
O grito da vez é pra que não seja também cego, caolho, míope.
Estão surdos. Não vale.
Só vele esse sono e silêncio.
Surdos. Não insista.
Essa mão que acena implora pra que, pelo menos, veja.
Não ignore.
Não finja que não viu.
Eu sei que você sabe.
Mesmo que esteja surdo.

01/02/2016

Cheguei aos 50!

Então, fiz 50 anos.
Ouço coisas:
"Você precisa emagrecer. Na sua idade, esse peso não faz bem".
"Você precisava parar de beber. Na sua idade, cerveja não faz bem".
"Precisa encontrar alguém pra te acompanhar na velhice".
"Precisa comprar uma casa. Na velhice você precisa de um lugar seu".
"Quando vai se aposentar? Já deve estar na idade".
"E esses cabelos brancos? Porque não pinta? Vai parecer mais jovem".

Sério?
Ano passado completei 50 anos de vida. De VIDA! DA VIDA!
Sou uma privilegiada?
Não sei.
Só sinto que minha mente ainda não assimilou essa idade.
Tem coisas que fazia aos 18 que ainda faço. Coisas que me dizem que deveria fazer aos 50 que não sinto a menor necessidade.
Coisas que me aconselham a não fazer, que faço com prazer.
Claro que cuido da saúde.
Mas isso não depende da idade. Sempre cuidei.
Claro que quero ter sempre meu canto. Mas isso também não tem ligação alguma com meio século de vida. Sempre gostei de ter minha " caverna", meu "esconderijo".
Gosto de beijo na boca. Gosto também.... Mas estou bem.
Cerveja? Não tem como. Não abro mão.
Aposentadoria? Não sei... Já pensei nisso... Penso Nisso.
Mas também penso que é bom produzir. Ser útil. Além disso, gosto de conviver com os mais jovens.
Eles estão dominando o mundo.
O meu mundo está cheio deles.
E alguns são bem talentosos.
Aprendo muito com eles. E me divirto com eles também.
E meus cabelos brancos?
Adoro! Desde os 40.
E na verdade não quero parecer o que não sou. Tenho orgulho de cada fio branco, cada ruga... Cada história vivida.
50 anos...
Quanto tempo ainda temos de sonhos, realizações e histórias pra viver e contar nessa idade e depois dela?
Se eu penso nisso?
Não seria humana se não pensasse.
Mas passa rápido esse pensamento.
Logo já estou ocupada com algum projeto, alguma busca, alguma novidade tecnológica.
Adoro novidades.
E os mais jovens estão sempre cheios delas.
E é o que busco. Sempre.
O novo. A vida se renovando.
Brilho nos olhos com a descoberta.
A leveza. Aprender.
E como tenho aprendido.
Só os tolos chegam aos 50 achando que são os experientes soberanos que tudo sabem e têm muito a ensinar.
Estou crescendo minha gente.
Como o menino e a menina que conheci no trabalho.
Crescem. São gênios no que fazem.
Talvez só ainda não saibam disso.
Eles são a minha inspiração.
Chegar aos 50 é tão bom quanto chegar aos 18.
Me sinto livre para escolher.
Me sinto leve para ser o que eu quiser.
Me sinto cheia de sonhos.

05/07/2015

DoÇuRas

Deixo que a tolice de algumas pessoas passe longe de mim.
Não quero que pensem que faço parte disso.
Estou focada em ser, ser melhor... Humana apenas.
Não vou competir. Não vou provar.
Não vou medir.
Nada e além.
O que sou, está exposto.
Abertamente.
Minhas sacolas, pesadas, cheias ou vazias, carrego sozinha.
Sei bem quais não são minhas.
Deixo-as de lado.
Cada um que leve a sua.
Não perco tempo com o que não existe.
Com o que não se encaixa.
Com o que está infeliz consigo.
Olho, sinto pena.
Se posso e quer, ajudo.
Fora isso, passo longe.
A infelicidade, a insatisfação contaminam tudo ao redor.
E quem se deixou contaminar, está na mesma sintonia.
É uma pena que o mundo ainda tenha gente assim?
É bom.
A mim, pelo menos, ajuda a saber como não quero ser.
Se posso sorrir leve, porque rancor da vida?
Se posso dar bom dia feliz, porque entrar com pés pesados, arrastados?
Se posso ser luz, porque carregar o breu nas mãos, nos olhos, no coração?
Eu escolhi a paz. A sonoridade do amor.
Que pode ser ouvido bem longe.
Mesmo que eu não diga nada.
O amor todo mundo sabe!
O resto se espalha sorrateiro, feito lama, lodo...
Com o tempo, silenciosamente, tudo ao redor se tornou feio e fétido.
Eu sei. Ninguém me persegue, ninguém ri de mim, ninguém me deseja mal.
E sempre tem alguém que me pede um sorriso.
O mundo sorri pra mim, porque dou gargalhadas com ele.
Ainda sou uma menina que quer brincar de roda, dançar e beber água da chuva, escolher o melhor doce da banca, comprar muitos iguais pra dividir com os coleguinhas...
Viver é isso!
Dividir doçuras com o mundo!